sábado, outubro 08, 2005

Sobre a morte

Alfredo Moraes Goetten, morto no dia 15 de fevereiro de 1979 com 62 anos, vítima de câncer no cérebro, deixa mulher, três filhos e cinco netos. Eu entre estes últimos. Ele foi a primeira pessoa a morrer até onde eu sabia. Até então, morte era algo inexistente. Eu nunca tinha ouvido falar destas coisas.

Apesar de ainda não ter completado quatro anos, eu lembro muito bem dele. O sujeito não era fácil. Alto, vivia de pilantragens pra cima dos netos. Mas era pra ficarmos espertos pra vida. Adorava colocar uma bala fora do nosso alcance e ‘se vira magrão’ pra conseguir pegar. Quando não tava com saco pra ficar de pé, amarrava os doces num lugar alto, completamente inacessível pra mim e pro meu irmão. Quando aprontávamos, usava um castigo muito singular. Deixava os piazinhos pelados, pra evitar possíveis fugas pros vizinhos, etc.

Usava o método científico da recompensa pra nosso aprendizado. Ou pra sacanear. 10 cambalhotas por uma barra de chocolate, etc. Foi o que melhor ensinou que neguim precisa se virar pra conseguir o que quisesse. Se bem que, pensando agora, ele acabava entregando os doces. Gostava mesmo era de ver o ‘circo pegando fogo’.

Aprendi a jogar dominó com o sujeito e vem daquele sangue teuto-portuga o gosto pelo álcool em doses convenientes. Do velório, lembro da quantidade absurda de gente que veio prestigiar o evento e do meu irmão andando de bicicletinha, fazendo manobras radicais tirando cada fina do caixão que deixava o povo loco.

Em conversas futuras com meu irmão, concluímos que a morte do vô Alfredinho causou bem mais que a perda de um cara esperto, que nos divertia. Com ela, desapareceu um sujeito que fazia meu pai - seu genro - ter um certo respeito por algumas coisas.