terça-feira, outubro 04, 2005

O primeiro trauma

Eu estava nos primeiros treinamentos na arte milenar de ficar de pé e a maracutaia acontecia na cama da minha avó. Eu tinha menos de um ano e me apoiava na cabeceira da cama. Pra combinar, nesta parte do quarto, entre a parede e a cama, ficava um crucifixo gigante feito de corrente de metal, com as contas de madeira. O interruptor de luz, com alguns probleminhas estruturais, ficava enrolado no objeto de devoção.

Pra entender melhor isso, é bom explicar como era o treco numa habitação centenária. A casa, que tinha um pé-direito de uns três metros, possuia um interruptor meio precário, daqueles em que você desligava e ligava a luz num objeto parecido com os chuveirinhos dos chuveiros básicos. Apertava-se uma vez e ligava, novo aperto e desligava. E este objeto ficava solto, ligado na lâmpada só pelo fio, que por sua vez ficava junto à parede apenas por um prego. Com isso, as pessoas ligavam e desligavam com o objeto no ar e soltavam, fazendo com que ele batesse na parede a toda hora... com o tempo, esse negócio quebrava e pra se levar um choque era facim.

Voltando ao trauma, como o fio ficava enrolado no crucifixo e eu, faceiro andando pela cama, peguei no bonequim pregado na cruz e levei um choque. Como estava sozinho, as primeiras pessoas que vieram acudir, só chegaram no quarto depois que eu larguei do troço dos infernos. Como eu estava na cama deitado, chorando, pensaram que eu acabara de acordar e me vi sozinho, comecei a chorar. Talvez alguns acharam que eu havia tido um pesadelo.

Até então a história é triste, agora começa a parte engraçada: eu virava no diabo cada vez que me colocavam na cama da minha avó. Chorava, esperneava, chutava, mas não havia jeito de me deixar lá. Por enquanto a reação teve como culpa a birra que o piá do Maneco começou a desenvolver.

Como a familhagem era católica e a igreja ficava no lado da casa, ir na missa era quase obrigação e lá fui eu... Na primeira visão de um padre franciscano com um crucifixo gigante o diabo entrou no corpo do ser e a choradeira começou. O fato ainda passara batido pois o cara foi lá pro altar e eu fiquei na minha. No final, o malandrão da hoste de são chico, amigo das crianças, veio dar uma de simpático e agradar a criança conhecida. E já chegou querendo pegar no colo! Novo ataque histérico, com direito a cara roxa e tudo mais... A partir daí começaram a desconfiar do que disparava um ataque tão amalucado do gurizinho.

Após novas experiências(malditos bastardos...) descobriram que eu não podia ver um crucifixo que virava no diabo. Para minha sorte, vivíamos em uma época mais iluminada e não tentaram tirar o capeta que coro do disinfiliz na marra. Acharam por bem investigar ocorrido e logo descobriram a origem do problema. Hum... e lembro que minha mãe jurava que, grávida de mim, viu no Cine Vitória o filme 'O Exorcista'.

3 Comments:

At 5:34 PM, Anonymous Anônimo said...

O nome daquele interruptor é pêra... tinha na minha casa. Cansei de bater com ele na parede. Mas nunca levei choque.

 
At 5:55 PM, Blogger Alessandro said...

Caramba... Eu tentei por um tempo descobrir qual era o nome daquele interruptor mas não consegui. E acho que foi o único choque que devo ter levado na vida.

 
At 12:01 AM, Anonymous Anônimo said...

Caraca, o cara nasceu com o capeta no corpo! Vamos levá-lo a um daqueles programas do canal dos pastores. Só falta agora o rapaz falar que joga RPG, daí não tem mais salvação pra alma dele mesmo, nem comprando terreno no céu o cara se garante, daí :)
E eu tô tentando lembrar onde diabos tinha um interruptor desses na minha infância, também...

 

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