sábado, outubro 08, 2005

O roubo

Num país com tantas desigualdades, nada mais comum que uma criança se dar conta muito cedo que pode ser 'aliviada' de suas posses. Com quatro anos, eu tive o fusca da família e um caminhão de brinquedo roubados. Senti muito quando notei que meu brinquedo preferido foi levado. Eu o havia deixado perto da porta da frente, do lado de fora. Assim como a casa onde tomei meu primeiro susto, essa onde morava também ficava no alto. Mas tinha portão e a garagem era fechada. Nunca passara pela minha cabeça que alguém iria querer meu carrinho. Da onde! Em que mundo nós estamos!

Depois de fazer o B.O. com a delegada minha mãe, veio o veredicto. Quem roubou foi algum moleque de um conjunto de casas simples no final da rua e foi bom pra eu aprender a não deixar meus brinquedos em qualquer lugar. Então eu descobri numa tacada só que minha casa não era inviolável, que minha mãe tinha poderes ocultos e o preconceito de que 'aqueles piás são ladrões'.

Sobre o fusca branco do meu pai, roubado em uma visita a primos, em plena luz do dia, nada a declarar. Aquilo não era importante pra mim. Ele que se preocupasse com os brinquedos dele e eu me virava com os meus.