quinta-feira, novembro 10, 2005

Ciganos

Como já devo ter explicado, meu trajeto para a escola passava pelo ‘campinho do Douglas’. Curitibanos é uma cidade de morros por tudo quanto é lado. As ruas e os carreiros normalmente eram em infinitas subidas e descidas. Para chegar no campinho, eu descia um ladeira grande em forma de carreiro que acabava no meio do campo. Aí era só ir pra trás do campinho, pegar outro carreiro e cortava um bom caminho até a escola.

Um dia eu estava viajando nos meus pensamentos, olhando pro chão, quando cheguei no começo do carreiro no alto do morrinho, vi que tinha um monte de barracas e caminhonetes no campinho. Contei umas quatro F-1000 e sete barracas grandes, coloridas e de formas diferentes.

Desci o carreiro e passei pelo lado do acampamento onde um monte de gente falava num idioma enrolado. As mulheres usavam e abusavam no batom e usavam vestidos longos vermelhos. Os caras usavam óculos escuros e barbas grandes. Todos usavam e abusavam de jóias douradas.

Como tava na minha hora, apressei o passo e fui pra escola. Lá contei pro povo e ninguém soube me explicar que tipo de gente ela aquela. Minha professora resolveu a questão: eram ciganos, um povo sem pátria e que vivia mudando de lugar, sem moradia fixa. Hum.... Então quer dizer que a gente ia ter o campinho de volta, né? Então beleza.

Cheguei em casa e falei pra empregada e a mulé ficou preocupada, dizendo que eles roubavam crianças e adoravam coisas douradas. Ficou brava quando eu falei que passei perto deles e ninguém sequer olhou pra mim. A loca fez eu prometer que não passaria perto do campinho enquanto eles estivessem lá. Fiquei de cara com o desvio que teria que fazer, mas resolvi escutar.

Eles ficaram uns quinze dias, tempo suficiente para maldizermos toda a raça dos ciganos por ocupar um dos campinhos mais usados pela piazada por tanto tempo. Quando foram pra outro lugar, vimos que deixaram montes de sujeira e umas valetas pequenas que acabaram detonando o campinho.

ps. Antes que isso me incomode mais, Houaiss nos explica que ‘carreiro’ é um regionalismo do Sul do Brasil e em Portugal que significa caminho estreito, atalho. Lá em Portugal, é um sulco aberto no chão pela passagem contínua de carros. Os que eu cito são uma mistura dos dois. Carreiros são atalhos, ou caminhos estreitos que foram originados pela passagem contínua de pessoas. Mais precisamente, piás.