quarta-feira, novembro 02, 2005

Aplicando o ofício

Com todos os ‘ingredientes’ preparados, mãos à obra! Pegue uma tábua da largura que comporte a bunda de um piá entre seis e dez anos e o comprimento suficiente para que este mesmo piá fique sentado com os pés esticados. Escolha um dos extremos, marque com um lápis para serrar a madeira de modo que imite o bico de um fórmula 1, ou seja, quase triangular, mas com a ponta chata.

Vem desta época o começo de gostar tanto de corridas matinais no domingo global, narradas pelo emocionado Luciano do Valle e torcendo sempre para a Brabham de Nelson Piquet, disparado o melhor piloto brasileiro que existiu. Senna? pfffff

Agora imagina uma caixa de bis. Hum... Melhor, pense em duas caixas de bis colocadas de lado a lado, grudadas pelo lado menor. Pensou? Agora coma a primeira fileira de cada uma destas caixas como prêmio pra ficar pensando essas coisas e por ler meu blog. Eu espero...

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Então. Depois de comer uma coisa que eu nunca vi naquela época de fabricações de carrinhos, voltamos às associações de idéia. O que sobrou das caixas de bis, duas fileiras, dão um tamanho aproximado das madeirinhas que precisávamos para colocar os rolamentos com embute.

Primeiro a parte traseira. Com uma faca/facão esculpíamos as extremidades de modo a conseguir que entrassem os dois rolamentos. Pra evitar que eles saíssem, usávamos pregos e lascas para firmar melhor a coisa toda. Depois de pronto, pregávamos esta madeiras na parte inferior daquela tábua do primeiro parágrafo.

Experiências bem fundamentadas indicam que carrinhos de ‘rolimã’ com três rolamentos (dois atrás e um na frente) eram bem melhores que os de quatro (dois na frente). Prós não faltam. Eles tinham muito mais agilidade, que permitiam manobras mais perigosas. Quase coloco a palavra ‘radical’, mas este vocabulário não existia em 81. Havia mais estabilidade, dirigibilidade e corria bem mais.

Outro dado que contava bastante era que conseguir três rolamentos e embutes era bem mais fácil e barato que quatro, né! E só precisava de dois iguais, já que o da frente poderia ser maior.

Então vamos pra parte da frente? Na tábua principal era feito um furo, por onde entrava um parafuso grande, com porcas e ruelas. Outro furo era feito na outra madeira com as medidas bismétricas, por onde passava o parafuso com novas porcas e ruelas. Mas antes de colocar o parafuso, vamos colocar o rolamento da frente na tal madeira, que servia de direção para o bólido..

Junto a essa madeira, eram pregadas duas novas madeirinhas com um espaço no meio. O rolamento que faltava era colocado em algo parecido com um cabo de vassoura, etc. Para deixá-lo firme, lascas e pregos eram usados da mesma maneira que os de trás. Este pedaço de ‘cabo de vassoura’ era pregado naquelas duas tabuinhas com farta quantidade de pregos.

Acho que aí está descrito um carrinho básico daquela época. Como eram feitos vários, com o tempo, alguns acessórios eram adicionados. Freios de mão nas laterais, encostos na traseira e pinturas a base de canetas bic e lápis de cor.

O carrinho ‘tunado’ que eu mais gostei, que tinha tudo isso que a gente tinha direito era um que meu irmão fez com um pedaço de pano vermelho acolchoando o encosto. Tá tudo muito bem, tá tudo muito bom, mas depois de alguns dias, o trabalho foi pro beleléu depois que uma chuva fora de hora molhou tudo e estragou a coisa toda...

Espero tenha conseguido fazer com que os leitores entendam como era feito um carrinho no começo da década de 80, mas qualquer coisa, usem os comentários para perguntas técnicas.

1 Comments:

At 10:25 AM, Blogger Priscilla said...

Meus vizinhos leram teu blog. Agora, naquela descida que começa na esquina da minha casa, eles passam o dia inteiro nessa de rolimã. Talvez um dia eu peça uma carona. Obrigada pelos Bis :)

 

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