sexta-feira, outubro 14, 2005

A Fabíola

A casa que morei naquele final de 80 era de esquina, No outro lado, na casa vizinha, morava a Fabíola. As duas casas eram bem parecidas, com certeza foram construídas na mesma época, e eram da mesma família, pois naquele cômodo onde eu dava as minhas derrapadas, havia uma porta que dava direto para dentro da sala dos vizinhos.

Era daquelas portas com o buraco da fechadura grande e dava pra espiar as quatro pessoas que moravam lá, fazendo suas refeições, etc. Só fui ver aquela porta aberta no dia em que eles se mudaram. Pensando agora, acho que devíamos incomodar bastante, pois vivíamos fazendo zona naquele cômodo.

Minha mãe fazia amizade absurdamente fácil e rápido, e enquanto os caras da mudança colocavam os apetrechos ela já estava falando com os vizinhos pra saber mais detalhes sobre a vida, e tudo mais. Lá moravam a Fabíola, seu irmão mais novo, sua mãe e sua avó. Sem pai. Nunca toquei no assunto.

Foi com esta criaturinha que tinha a minha idade que se iniciou o projeto de primeiro amor. É que com cinco, seis anos, não havia namoro, discutir relação. Mas os beijos ao menos foram ensaiados. Toscamente... Sem acompanhamento de alguém pra ajudar, era só selinho. E vamos parar com isso que eu quero brincar com carrinho, pô!

Morena de cabelos lisos, pele bem clara, combinando com o verão curitibanense (quem nasce em Curitibanos é curitibanense, belê?). Ela tinha uns olhos tristes, redondos e castanhos escuros que brilhavam e provocavam aquela vontade legal de tentar fazer de tudo pra não deixá-los mais tristes ainda, de modo que era fácil eu dar o que eu tinha na mão, como forma de presente, pra tentar arrancar sorrisos.

Vivíamos brincando na parte de trás das duas casas, onde havia um terreno bem grande, com várias árvores e um esqueleto de uma casa pequena, sem telhado, nem paredes, nem chão. Esta casa era a nossa visão particular daquela música “A Casa”, do Toquinho. Mas, mesmo sem chão, a gente entrava. Até dava pra fazer uma rede...

Ela era bem mais ‘madura’ que eu. Vem daí a impressão, consolidada mais tarde, de que homem não passa dos doze anos e mulher nasce com doze anos. Por hora, só dava pra pensar na metade final desta frase.

5 Comments:

At 1:35 PM, Anonymous Anônimo said...

lembranças de momentos sutis e marcantes... simples e especiais... me identifico muito com esta infância arteira e romântica...
a fabiola sabe disso? avisa ela pow...
má.

 
At 4:09 PM, Blogger Priscilla said...

Esse lance dos doze anos é fato, né. Rob Fleming já devia entender.

 
At 5:18 PM, Anonymous Anônimo said...

conta mais, está muito bom! vc está me surpreendendo, hein, moço, virando romancista!
beijo,

 
At 2:23 AM, Anonymous Anônimo said...

Isso aqui tá uma bela de uma viadagem, hein? Espera até o Jones ver isso... SEGURA!

 
At 7:07 PM, Anonymous Anônimo said...

O clube dos machinhos já se arvorou... haha.

 

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