segunda-feira, outubro 24, 2005

A várzea profissional

Nesta época também participei do lado mais legal, cru e engraçado do futebol jogado naqueles campos gigantes. É que há quatro quadras, ou dois carreiros de casa, havia um outro campo, das mesmas dimensões, mas com gramado apenas perto dos quatro ‘corners’.

Neste lugar, sem nome definido e que chamávamos apenas de ‘campão’ que se apresentavam os atletas adultos de final de semana. E foi neste ambiente familiar que fiz meu primeiro gol num goleiro adulto, mas também foi onde vi a primeira fratura exposta(post desta terça-feira).

Vamos começar pelo gol. Era um dia frio pacas, num feriado. Eu não tinha o que fazer e resolvi ir sozinho lá ver o que rolava. Atrás de um dos gols tinha um espaço pro povo estacionar os carros e eu ficava encostado em um deles escutando os preparativos dos dois times.

Como um dos caras da equipe sem uniforme iria chegar atrasado e não tinha ninguém melhor, resolveram colocar o piá aqui. E lá fui eu jogar de calça de veludo vermelha, que eu usava pra combater o frio, no meio de adultos de 18 anos pra mais.

Ainda existia o 11 de fato - ponta-esquerdo - na época, posição que costumavam mandar os que não jogavam nada. E lá fui eu, escalado pra ocupar a faixa do abandonada do campo. Pra não incomodar muito, resolvi ficar acompanhando o jogo do ataque.

O time sem uniforme era muito melhor e lembrei logo daquele jogo depois de ler uma fantástica descrição de André Pugliesi pra saber como que se faz pra descobrir se um boleiro é bom: quanto pior o estado das ferramentas do cidadão, melhor ele é. Os uniformizados estavam todos alinhados, limpinhos, com meias novas, com direito a goleiro usando luvas, joelheiras e cotoveleiras (quer algo mais viado?)

O jogo já estava definido, com goleada certa para o ‘meu’ time, cheio de jogadores com chuteiras estouradas, meias das mais diversas cores e eu, lá de vez em quando, tocava na bola, apenas para ter o cuidado de passar direito pra algum companheiro. Em um contra-ataque, os adversários deixaram só um defensor contra o atacante, que na matada de um lançamento longo, já tirou a marcação do lance e, da entrada da grande área, chutou forte.

Não se sabe como, o goleiro frangueiro homossexual fez uma defesa milagrosa. Mas para azar dos ‘almophadinhas foot ball club’, a bola sobrou mansinha para mim. Não pensei duas vezes, fechei os olhos, meti a bicuda na pelota e mandei-a para o fundo das redes azuis, com remendos de cabos de várias cores. Lógico que, com o meu tamanho e força, só consegui fazer a bola ir fraquinha para o gol vazio.

O jogo já estava ganho, mas o time inteiro gritou com o gol inusitado. É evidente que comemoraram mais pra tirar sarro dos pobres adversários, mas pra mim aquilo foi o bastante pra sonhar com futuro de seleção brasileira durante vários dias. No segundo tempo apareceu o titular da posição e eu fui pra trás de um dos gols pra ver o resto do jogo com sorriso de orelha a orelha.

1 Comments:

At 11:08 AM, Blogger Priscilla said...

:D bem grande

 

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